quarta-feira, 31 de agosto de 2011

FERNANDO PESSOA





    Sonho. Não sei quem sou neste momento. Durmo sentindo-me. Na hora calma Meu pensamento esquece o pensamento,
    Minha alma não tem alma.Se existo é um erro eu o saber. Se acordo Parece que erro. Sinto que não sei. Nada quero nem tenho nem recordo.
    Não tenho ser nem lei.Lapso da consciência entre ilusões, Fantasmas me limitam e me contêm. Dorme insciente de alheios corações,
    Coração de ninguém.
    Fernando Pessoa, 6-1-1923

terça-feira, 30 de agosto de 2011

INTERVALO



      Quem te disse ao ouvido esse segredo Que raras deusas têm escutado - Aquele amor cheio de crença e medo Que é verdadeiro só se é segredado?... Quem te disse tão cedo?Não fui eu, que te não ousei dizê-lo. Não foi um outro, porque não sabia. Mas quem roçou da testa teu cabelo E te disse ao ouvido o que sentia? Seria alguém, seria? Ou foi só que o sonhaste e eu te o sonhei? Foi só qualquer ciúme meu de ti Que o supôs dito, porque o não direi, Que o supôs feito, porque o só fingi Em sonhos que nem sei? Seja o que for, quem foi que levemente, A teu ouvido vagamente atento, Te falou desse amor em mim presente Mas que não passa do meu pensamento Que anseia e que não sente? Foi um desejo que, sem corpo ou boca, A teus ouvidos de eu sonhar-te disse A frase eterna, imerecida e louca - A que as deusas esperam da ledice Com que o Olimpo se apouca.
      Fernando Pessoa
    http://www.insite.com.br/art/pessoa/cancioneiro/77.php

    quarta-feira, 17 de agosto de 2011

    face Interior

    Um olhar que almeja algo,
    nada perde , nada encontra;
    natureza é seu alvo,
    descoberta bela e pronta.

    A cantada que eu ouço
    não me dá a alegria,
    pois foi Bach que fez o esboço
    Eu nasci com está cria.

    Mas não vejo está filha.
    filha gêmea de minha alma,
    Que tem outra face fria.

    Calma fria face.
    Quando o olhar nasce ao dia,
    Tú querida que em mim nasce

    Valter F.F.Lemos