quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Dossiê : Marxismo, feminismo e "estudos de gênero".

“Qual a contribuição que a teoria marxista produziu e pode oferecer para a análise
e a crítica da situação das mulheres nas sociedades de classes, particularmente na
sociedade capitalista?


Marxismo e feminismo : afinidades e diferenças.
Maria Lygia Quartim de Moraes1


De Karl Marx a Juliet Mitchell

O marxismo e a psicanálise constituem as duas maiores revoluções teóricas do milênio. Ambas, à
sua maneira, provocaram profundas e irreversíveis mudanças no campo das idéias e no campo das
práticas sociais. A grande obra teórica do marxismo persiste sendo O Capital. A análise da
dinâmica da luta de classes e a especificidade de funcionamento do modo de produção capitalista
– a contradição entre o crescente desenvolvimento das forças produtivas e as relações de
produção – permanecem válidas em todos os seus pressupostos e desdobramentos. A tendência
avassaladora do capitalismo; o impulso ao aperfeiçoamento técnico; o inexorável crescimento da
magnitude do capital e sua centralização nas mãos de um número menor de bilionários, estão
entre as leis definitivamente estabelecidas por Marx.
No tocante à "questão da mulher,"a perspectiva marxista assume uma dimensão de crítica radical
ao pensamento conservador. Em A origem da família, da propriedade privada e do Estado2 a
condição social da mulher ganha um relevo especial pois a instauração da propriedade privada e a
subordinação das mulheres aos homens são dois fatos simultâneos, marco inicial das lutas de
classes. Nesse sentido, o marxismo abriu as portas para o tema da “opressão específica”, que
seria retomado e retrabalhado pelas feministas marxistas dos anos 1960-70. Na Ideologia alemã,
de 1846, a instituição da família aparece como um dos momentos de passagem para a sociedade
de classes. Esta hierarquização processa-se no interior do próprio processo de trabalho pois, como
assinalam, Marx e Engels:

a divisão do trabalho repousa sobre a divisão natural do trabalho na família e
sobre a separação da sociedade em famílias isoladas e opostas umas as outras,
– e esta divisão do trabalho implica ao mesmo tempo na repartição do trabalho
e de seus produtos; distribuição desigual, na verdade, tanto em quantidade
como em qualidade; ela implica pois na propriedade; assim, a primeira forma,
o germe reside na família, onde a mulher e as crianças são escravas do

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1 Professora do Departamento de Sociologia, IFCH, UNICAMP.
2 ENGELS, Frederick. A Origem da família, da propriedade privada e do Estado. São Paulo. Ed. Civilização
Brasileira, 1977.


homem. A escravidão, ainda latente e muito rudimentar na família, é a
primeira propriedade.3
No Manifesto Comunista, de 1848, Marx e Engels reafirmam a mesma identidade entre a
opressão da mulher, família e propriedade privada, preconizando a abolição da família como meta
dos comunistas.4 Assim, a ênfase na historicidade das instituições humanas permitiu a
compreensão da família como fenômeno social em que a divisão social do trabalho é também
uma divisão sexual entre funções femininas e masculinas. Mais do que isso: abriu espaço para
novos tipos de projetos e relações entre os sexos. Com Engels e Marx, as feministas da esquerda
européia, nos anos 1960-70, puderam construir uma "teoria da opressão" e partir para a luta.
A inegável influência marxista nas formulações feministas não significa, por outro lado, que o
marxismo possa dar conta por completo da "questão da mulher". No seu livro Women's Estate,
cuja primeira edição data de 1966, Juliet Mitchell, jovem intelectual inglesa do grupo da New Left
Review, parte da dialética entre os ditames da produção econômica e as contingências do processo
de reprodução da espécie para explicar a situação da mulher na sociedade. A dialética "produçãoreprodução
social", nos termos da autora, define o lugar da mulher nas sociedades de classe. A
mulher é explorada no trabalho e confinada à casa. Sua submissão e seu lugar subalterno na vida
econômica seriam compensadas pela seu poder na família:

A situação das mulheres é diferente da de outros grupos sociais oprimidos:
elas são a metade da humanidade (…) … à mulher é oferecido um mundo
próprio: a família. Exploradas no trabalho, relegadas à casa: estas duas
posições compõem sua opressão.5

O pensamento conservador toma a família como uma entidade supra-histórica, uma instituição
sempre idêntica, na qual as funções e papéis são "naturalmente" como masculinos e femininos. A
ideologia do “natural, ressalta Juliet Mitchell, visa justamente obscurer a historicidade da família
e das funções nela desempenhadas pelas mulheres:

“Fala-se da mulher, da família como se fossem sempre as mesmas.... Assim,
a análise da feminilidade e da família devem se um todo monolítico: mãe e
filho, lugar de mulher. . . seu destino natural”.6

A idéia de destino natural tem de ser "desconstruída" e, nesse sentido, a teoria socialista do
passado não chegou a isolar os diferentes elementos da condição feminina que formam uma
estrutura complexa e não uma unidade simples. Não é possível reduzir a opressão da mulher a
uma única dimensão, como formula Engels, nem mesmo equacioná-la como símbolo da opressão
geral, como afirma Marx em seus primeiros escritos. “É preciso pensá-la como uma estrutura
específica, isto é, como unidade de elementos diferenciados", preconiza Mitchell7”.
De fato, as vicissitudes da condição feminina decorrem da complexa dialética entre os papéis e
lugares socialmente atribuídos às mulheres e que dizem respeito, especialmente, ao lugar na
produção dos bens (a esfera da produção), à sexualidade e ao cuidar das crianças. Juliet Mitchell
constata os limites do marxismo para o entendimento das diferenças sexuais e seus componentes

_______________
3 MARX, K. e ENGELS, F. L’idéologie allemande. Paris, Editions Sociales, 1970, p.47.
4 MARX, K. Oeuvres. Paris, Pléiade, 1965, p.178.
5 MITCHELL, Juliet.Woman's Estate.England:Penguin Books, 1971, p.99.
6 Idem, p.100.
7 Idem p.167

psíquicos concluindo que só a psicanálise, como ciência do inconsciente, fornece a chave teórica
para a questão das diferenças sexuais. Freud, com a descoberta do inconsciente, revelou a
importância da dimensão psíquica, criando um novo continente teórico8. A psicanálise, na sua
dupla dimensão de teoria e de prática clínica, nos ajuda a entender como "a mulher torna-se
mulher". E o "ser mulher"passa pela subjetividade, por processos psíquicos através do qual
construimos um "eu", mais ou menos estruturado.9 Desta maneira, o feminismo radical dos anos
70 apropriou-se não somente do marxismo como teoria revolucionária – falava-se da "libertação
feminina" – quanto da psicanálise e do amplo caminho aberto pela descoberta dos processos do
inconsciente humano.

O feminismo brasileiro

Os movimentos feministas tiveram força política suficiente para impor a década da mulher
instituída pela ONU (1975/85) e de manter a questão da desigualdade como tema na chamada
"pauta dos direitos humanos". O feminismo dos anos 60-70 enfrentou a Igreja Católica e aos
conservadores, na Itália e França, conquistando o direito ao divórcio e ao aborto por plesbicito
nacional, com o apoio da esquerda socialista e comunista. Ao mesmo tempo, o feminismo ganhou
visibilidade quando as mulheres passaram a organizar-se autonomamente, no quadro da nova
esquerda, à margem dos partidos tradicionais .
No Brasil, a importância do feminismo marxista/socialista refletiu-se na grande recepção que suas
teses tiveram junto aos movimentos sociais. As feministas atuavam nos clubes de mães, nos
movimentos de base, via de regra em parceria com a ala progressista da Igreja católica. Além do
trabalho "junto às bases populares", no jargão político daquele momento, as feministas que
militavam em S.Paulo, Rio de Janeiro e Recife lutavam também pela anistia, pelas liberdades
democráticas e pelo fim do regime militar.
As feministas marxistas brasileiras incluiam em sua bibliografia obrigatória autores como Marx,
Engels, Alexandra Kollontai, Simone de Beauvoir e Juliet Mitchell. As preferências literárias das
feministas revelam a preocupação com certas questões centrais para as quais o marxismo fornecia
um modelo explicativo. Urgia enfrentar o discurso conservador que preconizava a conformidade
da mulher com seu destino de mãe e esposa. A defesa da “família” como instituição universal e
supra-histórica fazia parte do ideário patriarcal que era preciso combater. Além do mais, era
importante lutar pela emancipação econômica da mulher, pelo direito ao trabalho e,
concomitantmente, contra as desigualdades sofridas em termos de salários e postos. Igual salário
para igual trabalho era a primeira das reivindicações com relação à esfera econômica. A análise
dos editoriais e temas da imprensa feminista, especialmente o jornal paulista Nós Mulheres
(76/79) revela a influência do marxismo – o discurso da opressão específica da mulher, com sua
dupla jornada de trabalho – e a primazia de artigos sobre trabalho e política.

A década dos anos 80 inicia-se com duas importantes vitórias das forças de oposição à ditadura
militar: a anistia política e o retorno ao voto, com as eleições de 82. As sementes plantadas pelas
feministas deitaram raízes, como se observa tanto no tocante às creches quanto nas importantes
mudanças da legislação, especialmente na área da família, que foram incorporadas à Constituição

__________________
8 ALTHUSSER, Louis:Freud e Lacan e Marx e Freud 3ºed. São Paulo, Graal, 1991.
O feminismo também colaborou em novas orientações para o estudo da psicanálise, especialmente referidas ao
esclarecimento do "continente negro" da feminilidade. Hoje existe uma extraordinária pletora de bons estudos sobre o
tema, como é o caso de Emilce Bleichmar e seu livro O feminismo espontâneo da histeria. Porto Alegre: Artes
Médicas, 1988.
9 Foge do escopo desta exposição a questão da psicanálise, como teoria e como prática clínica. No entanto, constitui, a
meu ver, uma contribuição indispensável para pensarmos a questão da "opressão específica da mulher".

de 1988. Ao mesmo tempo, os anos 80 também marcam a consolidação da hegemonia dos
Estados Unidos e da retórica neoliberal. A crítica ao projeto do Estado de bem-estar social vem
acompanhada de ataques a seus defensores, que são chamados de "anti-modernizantes".
O solapamento das conquistas históricas dos trabalhadores e o agravamento da crise social
constituem o resultado mais evidente das políticas monetaristas e de privatização do patrimônio
público encetadas pelo neoliberalismo à brasileira de Fernando Henrique Cardoso. O processo de
desmonte dos direitos dos trabalhadores passa pela "flexibilizacão"do trabalho, vale dizer, pelo
incremento do número de trabalhadores sem carteira de trabalho e sem direitos. Pelos dados da
Pesquisa nacional de amostra a domicílio, entre 1990 e 1998, a porcentagem de trabalhadores sem
carteira, nas regiões metropolitanas, passou de 42% para 55%, enquanto que os níveis de
desemprego cresceram de 5% para 8%. Cerca de 50 milhões de brasileiros (33% da população
total) vivem abaixo da linha de pobreza enquanto 1% dos mais ricos concentra uma parcela da
renda superior aos 50% dos mais pobres.
Nesse quadro de desigualdade a situação das mulheres é ainda mais precária. Desta maneira as
mulheres, que constituem atualmente de 40 a 50% da força de trabalho, continuam ganhando
menos do que os homens e segregadas em alguns nichos profissionais, especialmente
relacionados ao "cuidar". Estudo recente de Lena Lavinas revela que, hoje, no país, cerca de 400
mil meninas de 10 a 15 anos trabalham como domésticas, em condições precárias – baixos
salários, dificuldades para continuar os estudos e com poucas perspectivas para o futuro. Ademais
da desvantagens que enfrentam no trabalho as mulheres são também as grandes responsáveis pela
esfera familiar. Entre 20% a 25% das famílias são chefiadas por mulheres sós o que dá a medida
do peso dos encargos domésticos e familiares. Nessas condições, como negar que as mulheres
continuam sofrendo os efeitos combinados da exploração de classe e da discriminação sexual?

As mulheres e a renovação do marxismo

Finalmente, invertendo os termos da questão proposta, acho importante ressaltar a importância
das contribuições teóricas de intelectuais do sexo feminino. O acesso ao conhecimento – fruto de
suas lutas e conquistas nos últimos cinqüenta anos – permitiu que as mulheres entrassem nos
campos da ciência institucional, das universidades e academias, bem como desenvolvessem novas
abordagens e problemáticas. No campo dos estudos da subjetividade, por exemplo, o volume e a
qualidade dessa contribuição ainda não foi devidamente valorizada. De Melanie Klein á Piera
Aulagnier, confirma-se o refinamento e aprofundamento das questões relativas à criança e à
sexuliadede feminina.
Também no campo do marxismo ocorre o mesmo fenômeno. Na vanguarda do marxismo, capaz
de pensar a realidade contemporânea sem cair em esquematismos nem em positivismos, destacase
a contribuição de Ellen Meiksins Wood. Seus estudos lançam novas luzes sobre o processo
histórico do aparecimento do capitalismo na Inglaterra10 e enfrentam questões de nossa atualidade
política. Com respeito ao tema da globalização da economia, seus pressupostos e consequências a
análise de Wood nos ajuda a pensar os dilemas da esquerda brasileira, dividida entre os que
acreditam que a "globalização" constitui um uma nova era, instaurada a partir dos anos setenta, e
seus opositores que estão convencidos de que a lógica fundamental do capitalismo permanece a
mesma. .
____________
10 Vide o artigo "As origens agrárias do capitalismo", publicado no número 10, de .junho de 2000 da Crítica Marxista.

Os defensores da globalização como mudança de qualidade apontam a internacionalização do
capital – mercado mundial, a internacionalização da economia e transferência da soberania da
nação-estado para as grandes corporações internacionais – como evidência desta ruptura com
relação ao capitalismo anterior.Para a autora, essa posição define especialmente as correntes
ligadas à social-democracia, que acreditavam nas possibilidades de uma "transição pacífica" do
capitalismo para o socialismo a partir da ampliação do Welfare Estate.
Do outro lado alinham-se todos que enxergam na "globalização"a continuidade da lógica
capitalista e, mais do que isso, a lógica do capitalismo que se universaliza e chega à maturidade.
Dito de outro modo, as mudanças ocorridas enquadram-se no processo de desenvolvimento
capitalista, de expansão global e permanente alteração das condições sociais. Não existe pois
ruptura mas a continuidade "da lógica sistêmica que governa desde o começo seus constantes
processos de mudança"11.
As conseqüências políticas destas duas posições são evidentes e podem também ser reconhecidas
no Brasil. Os defensores da nova era globalizada consideram que o triunfo do capitalismo é
definitivo e, nesta medida, tornam-se dóceis instrumentos das políticas neoliberais. Os marxistas
apontam para as contradições da expansão capitalista e suas nefastas conseqüências socias,
reconhecendo a força de seu poder corrosivo e a necessidade de superá-lo. Desta maneira, o
marxismo continua atual e atuante.

Qual a avaliação teórica e política que se pode fazer dos chamados “estudos de
gênero”, cujo desenvolvimento e influência têm ampliado nos últimos tempos?”

"Estudos de gênero" : limites de uma categoria analítica

Antes de mais nada, vamos situar nossa questão. A ampla literatura que hoje constitui o estudos
de gênero tem uma história que pode ser resumida da seguinte maneira : num primeiro momento,
nos idos de 1970-80, dominaram os estudos sobre a mulher e o principal impulso da produção de
e sobre mulheres estava relacionada às dimensões mais contestadoras e políticas. No Brasil, as
feministas de vanguarda militavam na esquerda e participavam da resistência à ditadura militar
brasileira. Muitas delas tinham vivido exiladas em algumas capitais européias, absorvendo
principalmente a experiência das feministas francesas e italianas. A influência das teses e temas
do feminismo europeu, próximo das correntes socialistas e marxistas, marcou portanto a primeira
fase do feminismo brasileiro e de sua produção teórica.
O feminismo norte-americano seguiu um rumo próprio, alheio ao marxismo e mais ligado aos
movimentos de "insubordinação civil". A grande derrota polîtico-militar dos Estados Unidos no
Vietnã foi também potencializada pelo forte movimento liderado por pacifistas e pelos jovens
universitários. A Universidade de Berkeley tornou-se a vanguarda dos movimentos contestadores
e do poder jovem. A luta libertária incluia as questões relacionadas à autoridade dos mais velhos
e ao conservadorismo do american way of life. A constestação era portanto de cunho mais
ideológico e cultural do que propriamento político. O pensamento de esquerda exercia-se por
meio de personalidades como Herbert Marcuse, autor de Eros e Civilização e professor em
Berkeley nos anos da contestação estudantil. Como se sabe, Marcuse não acreditava na
capacidade revolucionária do proletariado industrial e voltava suas esperanças para os novos

______________
11 WOOD, Ellen Meiksins "Capitalist change and generational shift". Monthly Review, vol 50, n5, 1998,p.3.

movimentos de jovens universitários, "hippies", feministas, negros e ativistas do movimento
homossexual.
Acompanhando a expansão dos movimentos feministas ganha impulso a edição de jornais,
panfletos e livros sobre temas relacionados à situação da mulher na sociedade. Em várias das
capitais do mundo ocidental surge um mercado editorial em torno do "estudos sobre a mulher".
Aos poucos, as instituições de amparo à pesquisas e universidades incorporam em seus currículos
disciplinas relacionadas à história das mulheres, abrindo espaço para novas abordagens. A própria
sistemática das pesquisas e censos começa a ser questionada, especialmente com respeito ao
ocultamento do trabalho feminino exercido nos limites do espaço familiar. Assim, os estudos
sobre a questão da mulher assumem também a dimensão de novas perspectivas de análise.
Desta maneira, a área temática que hoje chamamos de ""estudos de gênero" foi antecedida
históricamente pelos "estudos sobre a mulher", comprovando a passagem gradativa do
movimento social para a esfera acadêmica. Os "estudos sobre a mulher" dominaram nos anos em
que a militância feminista estava nas ruas ao passo que os "estudos de gênero" denotam a entrada
na academia de uma certa "perspectiva de análise". Não se trata mais de denunciar a opressão da
mulher mas de entender, teoricamente, a dimensão "sexista" de nosso conhecimento e os riscos
das generalizações.12 Atualmente, temos menos estudos sobre a mulher e mais estudos de gênero
que podem se referir aos homens – ou ao "gênero masculino"– como bem revelam os trabalhos
sobre "masculinidades" e "paternidades".
Já me referi anteriormente13 às dificuldades semânticas introduzidas pelo termo "gênero" no
concernente ao português. Enquanto que, em inglês, gender é um substantivo que designa
exatamente a condição física e/ou social do masculino e do feminino, a palavras "gênero", em
português, é um substantivo masculino que designa uma classe que se divide em outras, que são
chamadas de espécies. A mesma dificuldade ocorre com o francês, o que ocasionou o pouco
sucesso de tal expressão . Em seu lugar, fala-se de identidade sexual.
Assim, a expressão "relações de gênero", tal como vem sido utilizada no campo das ciências
sociais, designa, primordialmente, a perspectiva culturalista em que as categorias diferenciais de
sexo não implicam no reconhecimento de uma essência masculina ou feminina, de caráter
abstrato e universal, mas, diferentemente, apontam para a ordem cultural como modeladora de
mulheres e homens. Em outras palavras, o que chamamos de homem e mulher não é o produto
da sexualidade biológica mas de relações sociais baseadas em distintas estruturas de poder. A
categoria gênero ressalta a dimensão "flutuante" do ser homem e do ser mulher e, nessa medida,
precisa recorrer a outras teorias para dar conta desta situação de amálgama entre o ser biológico e
o ser social.
Robert Stoller, em artigo publicado em 196414 foi o primeiro a propor a utilização de uma
categoria que diferenciasse a pertinência anatômica ( o sexo) da pertinência a uma identidade
social ou psíquica (gênero). Para o autor, o "sentimento de ser mulher" e o "sentimento de ser
homem" são mais importantes em termos de identidade sexual do que as as características
anatômicas. Tal dicotomia apresenta-se, por exemplo, no caso do transexualismo.15 Nem todos

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12 A esse respeito ver o debate "Gênero, trajetórias e perspectivas", organizado por Karla Adriana Martins Bessa e
publicado pela revista Cadernos Pagu. (11)1998.
13 "Usos e limites da categoria gênero" in Cadernos Pagu (11)1998.p107-20.
14 "A contribution to the study of gender identity", IJP,45,1964. p.220-6.
15 Vide o verbete "gênero" in ROUDINECO,E. e PLON. Dicionário de Psicanálise.Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor,
1998.

concordam com a disjunção proposta por Stoller. Alertando para os riscos da dissociação radical
entre a biologia e a cultura, Marie Langer, com muita propriedade, declara que "como
psicanalista e médica, e, certamente, também como mulher, não posso imginar uma identidade
feminina e masculina sólida se o sexo biológico está em desacordo com ela".16 O que não
significa negar a plasticidade da sexualidade humana nem os notórios "deslocamentos" do
feminino e do masculino provocados pelas próprias mudanças e conquistas que transformam a
situação das mulheres.
Enquanto afirmação de que o sexo biológico é sobredeterminado pelos valores e atributos que a
cultura lhe confere, a categoria gênero se presta tanto ao uso das feministas marxistas como a de
qualquer pesquisador interessado nas consequências sociais da assimetria sexual. Já a perspectiva
feminista ressalta a dimensão da opressão universal sobre as mulheres, guardadas as diferenças
regionais e culturais e busca nas estruturas objetivas as marcas inequívocas da desigualdade: as
mulheres ganham menos e trabalham mais, no conjunto da população mundial, por exemplo. O
marxismo, por sua vez, é a teoria que nos ajuda a entender a natureza íntima do capitalismo, a
lógica de seu desenvolvimento, revolucionando permanentemente as condições de produção,
especialmente através do aumento da produtividade o que, por sua vez, determina a
proletarização da maior parte da humanidade. Que existe uma "questão da mulher" não há
dúvidas: os homens ainda concentram o poder econômico e político na maior parte do mundo e as
mulheres persistem sendo as grandes responsáveis pela família e pelo "cuidar" – dos filhos, da
casa e, cada vez mais, das finanças da família.
A categoria gênero, portanto, pode ser incorporada ao marxismo, assim como à piscanálise.
Inversamente, por ser uma categoria meramente descritiva, o gênero não sobrevive sem o
sustentáculo de teorias sociais e/ou psicanalíticas.
_____________
16 In: BLEICHMAR, Emilce.O feminismo espontâneo da histeria. Porto Alegre, Artes Médicas, 1988, p.33.

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Louisa Holecz













Ela nasceu em Middlesex, Inglaterra em 1971. Depois de estudar uma licenciatura em Belas Artes, I set-up 'Divine Studios, uma empresa de pintura mural comercial. 
Em 2000 me mudei para Zaragoza, Espanha, onde agora vivem e trabalham.
Bachelor of Fine Arts de "Ocidente Surrey College of Art and Design", na Inglaterra, ea partir de 1994-2000, trabalhou em Londres como um pintor e muralista de espaços públicos e privados. Reside em Zaragoza desde 2000.













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terça-feira, 13 de agosto de 2013

Julia de Burgos

Julia de Burgos

a vida de Julia de Burgos fue intensa y definitivamente breve, aunque sin duda esta escritora puertorriqueña dejó un legado indispensable para la poesía. Nació en 1914, en el seno de una familia muy humilde; fue la única de trece hermanos en realizar estudios secundarios. Se graduó como maestra en la Universidad y comenzó a trabajar, realizando actividades sociales. Fue una activa promotora de la liberación de la mujer; a los 22 años de edad se unió al grupo Hijas de la libertad del Partido Nacionalista de su país, y estuvo a cargo del discurso La mujer ante el dolor de la Patria. En el año 1940 tuvo una experiencia muy positiva en Nueva York, donde recibió el merecido reconocimiento por su trabajo; sin embargo, cuando trece años más tarde Julia se dejó ahogar por el alcohol, esta misma ciudad enterró su cuerpo en una tumba anónima.
Burgos publicó dos poemarios y dio a conocer varias poesías sueltas; tras su fallecimiento, se editaron algunos libros más. La fuerza y profundidad tan particulares de esta brillante poetisa se pueden apreciar en "El mar y tú", "Poema perdido en pocos versos"


Silencio de angustia
Tengo el desesperante silencio de la angustia 
y el trino verde herido... 
¿Por qué persiste el aire en no darme el sepulcro? 
¿Por qué todas las músicas no se rompen 
a un tiempo a recibir mi nombre? 
-¡Ah, sí, mi nombre, que me vistió de niña 
y que sabe el sollozo 

que me enamora el alma!