Que alma é sem defeitos?
Eu estudei a alta magia
Do Amor, que nunca sacia.
Saúdo-te toda vez
Que canta o galo gaulês.
Ah! Não terei mais desejos:
Perdi a vida em gracejos.
Tomou-me corpo e alento,
E dispersou meus pensamentos.
Ó estações, ó castelos!
Quando tu partires, enfim
Nada restará de mim.
Ó estações, ó castelos!
Jean Nicholas Arthur Rimbaud nasceu no dia 20 de Outubro de 1854 na cidade de Charleville, na França. Estudante brilhante, logo se tornou indócil com o convencionalismo da mãe e das raízes burguesas provincianas, fugindo de casa diversas vezes. Numa dessas expedições, ele talvez tenha participado rapidamente da Comuna de Paris de 1871. Mais conhecido é o fato de ter se tornado amante de Paul Verlaine (1844-1896), poeta mais velho, com quem teve um caso violento e tempestuoso que terminou quando Verlaine o atingiu na mão com um tiro de pistola.
Ela foi encontrada!
Quem? A eternidade.
É o mar misturado
Ao sol.
Minha alma imortal,
Cumpre a tua jura
Seja o sol estival
Ou a noite pura.
Pois tu me liberas
Das humanas quimeras,
Dos anseios vãos!
Tu voas então...
— Jamais a esperança.
Sem movimento.
Ciência e paciência,
O suplício é lento.
Que venha a manhã,
Com brasas de satã,
O dever
É vosso ardor.
Ela foi encontrada!
Quem? A eternidade.
É o mar misturado
Ao sol.
A aparência surrada de Rimbaud, seu comportamento ultrajante e a iconoclastia costumavam escandalizar aqueles com quem entrava em contato durante as viagens pela Europa, mas, após o rompimento com Verlaine, ele foi mais além, primeiro até o Oriente Médio e depois para a Abissínia. A essa altura, já havia abandonado os esforços literários há muito tempo e procurava ganhar dinheiro como comerciante e vendedor de armas. Retornou à França apenas depois que ficou doente, com câncer, e faleceu aos 37 anos, em 10 de Novembro de 1891, em Marselha, seis meses depois de amputar uma das pernas.
Flores
De um pequeno degrau dourado -, entre os cordões
de seda, os cinzentos véus de gaze, os veludos verdes
e os discos de cristal que enegrecem como bronze
ao sol -, vejo a digital abrir-se sobre um tapete de filigranas
de prata, de olhos e de cabeleiras.
Peças de ouro amarelo espalhadas sobre a ágata, pilastras
de mogno sustentando uma cúpula de esmeraldas,
buquês de cetim branco e de finas varas de rubis
rodeiam a rosa d'água.
Como um deus de enormes olhos azuis e de formas
de neve, o mar e o céu atraem aos terraços de mármore
a multidão das rosas fortes e jovens.
Embora pouco conhecidos enquanto Rimbaud estava vivo, seus textos tiveram um grande impacto em sucessivas gerações de escritores e são considerados por muitos uma antecipação do surrealismo das décadas de 1920 e 1930. A poesia rejeita o modo clássico e é dissonante ao empregar disparatados níveis de linguagem, diferentes tons e registros, um tratamento subversivo dos temas clássicos e termos chulos. Em "Vénus Anadyomène" (de 1870), por exemplo, o fato da deusa do amor ser transformada em uma mulher gorda e feia ao deixar um banho de imundícies, permite ao leitor, como está escrito no poema, vislumbrar a úlcera em seu ânus.
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