quarta-feira, 29 de junho de 2011

Arthur Rimbaud

Jean-Nicolas Arthur Rimbaud 


Oh estações, oh castelos!
Que alma é sem defeitos?

Eu estudei a alta magia
Do Amor, que nunca sacia.

Saúdo-te toda vez
Que canta o galo gaulês.

Ah! Não terei mais desejos:
Perdi a vida em gracejos.
Tomou-me corpo e alento,
E dispersou meus pensamentos.

Ó estações, ó castelos!

Quando tu partires, enfim
Nada restará de mim.


Ó estações, ó castelos!


Dissidente e vagabundo, levou uma vida excentricamente extravagante, produzindo versos subversivos. Ganhou a reputação de enfant terrible (criança terrível). Sua movimentada vida é obscurecida por uma espessa camada de boatos, especulações e polêmicas. Sua considerável reputação mantém-se graças ao minúsculo conjunto de obras que ele produziu dos 16 aos 19 anos de idade.


Jean Nicholas Arthur Rimbaud nasceu no dia 20 de Outubro de 1854 na cidade de Charleville, na França. Estudante brilhante, logo se tornou indócil com o convencionalismo da mãe e das raízes burguesas provincianas, fugindo de casa diversas vezes. Numa dessas expedições, ele talvez tenha participado rapidamente da Comuna de Paris de 1871. Mais conhecido é o fato de ter se tornado amante de Paul Verlaine (1844-1896), poeta mais velho, com quem teve um caso violento e tempestuoso que terminou quando Verlaine o atingiu na mão com um tiro de pistola.


Ela foi encontrada!
Quem? A eternidade.
É o mar misturado
Ao sol.

Minha alma imortal,
Cumpre a tua jura
Seja o sol estival
Ou a noite pura.

Pois tu me liberas
Das humanas quimeras,
Dos anseios vãos!
Tu voas então...

— Jamais a esperança.
Sem movimento.
Ciência e paciência,
O suplício é lento.

Que venha a manhã,
Com brasas de satã,
O dever
É vosso ardor.

Ela foi encontrada!
Quem? A eternidade.
É o mar misturado
Ao sol.



A aparência surrada de Rimbaud, seu comportamento ultrajante e a iconoclastia costumavam escandalizar aqueles com quem entrava em contato durante as viagens pela Europa, mas, após o rompimento com Verlaine, ele foi mais além, primeiro até o Oriente Médio e depois para a Abissínia. A essa altura, já havia abandonado os esforços literários há muito tempo e procurava ganhar dinheiro como comerciante e vendedor de armas. Retornou à França apenas depois que ficou doente, com câncer, e faleceu aos 37 anos, em 10 de Novembro de 1891, em Marselha, seis meses depois de amputar uma das pernas.



Flores

De um pequeno degrau dourado -, entre os cordões
de seda, os cinzentos véus de gaze, os veludos verdes
e os discos de cristal que enegrecem como bronze
ao sol -, vejo a digital abrir-se sobre um tapete de filigranas
de prata, de olhos e de cabeleiras.

Peças de ouro amarelo espalhadas sobre a ágata, pilastras
de mogno sustentando uma cúpula de esmeraldas,
buquês de cetim branco e de finas varas de rubis
rodeiam a rosa d'água.

Como um deus de enormes olhos azuis e de formas
de neve, o mar e o céu atraem aos terraços de mármore
a multidão das rosas fortes e jovens.





Embora pouco conhecidos enquanto Rimbaud estava vivo, seus textos tiveram um grande impacto em sucessivas gerações de escritores e são considerados por muitos uma antecipação do surrealismo das décadas de 1920 e 1930. A poesia rejeita o modo clássico e é dissonante ao empregar disparatados níveis de linguagem, diferentes tons e registros, um tratamento subversivo dos temas clássicos e termos chulos. Em "Vénus Anadyomène" (de 1870), por exemplo, o fato da deusa do amor ser transformada em uma mulher gorda e feia ao deixar um banho de imundícies, permite ao leitor, como está escrito no poema, vislumbrar a úlcera em seu ânus.

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