sábado, 4 de junho de 2011

Não sou eu eu juro

um petardo da sétima ARTE. descobrimos esta pérola no canal futura na ultima  sexta feira do dia 27 mês vale apena assistir 


É doce o filme canadense sobre a infância. Ainda que seja triste pensar no sofrimento de uma criança, é bonito ver qualquer obra que brote de dentro do universo infantil. Como espectadores, não conseguiríamos traçar com precisão um perfil psicológico de Léon, por vezes inocente, romântico, outras cruel e traquinas, mas ainda assim, compreendemos bem a natureza dele, sem que seja necessário maiores explicações.
Mesmo com os primorosos planos e com a fotografia de um colorido vivo que denunciam o olhar adulto e o artifício que pede qualquer boa produção, a poesia paira. Simplesmente porque todo o artifício é utilizado para capturar a atmosfera da infância. Léon é uma criança difícil, cheia de sonhos e impulsiva. Ama uma mulher, sua mãe. Amante das artes, ensina o filho a tocar piano e tem enorme cumplicidade pela insatisfação dele com o mundo em que vive. Na primeira cena, Léon está pendurado na árvore de seu quintal pelo pescoço, tenta se enforcar. As tentativas de suidídio são recorrentes ao longo do filme, principalmente após a partida de sua mãe que vai à Grécia em busca de céu azul, poeira e Ulisses, deixando para trás os dois filhos e o marido.
Léa também fora abandonada pelo pai, é vizinha de Léon e sempre o procurava buscando ser sua amiga, sem conseguir sucesso nas aproximações. Até que num dado momento tornam-se cúmplices. Cúmplices na dor e na tristeza, cúmplices no esconderijo do mundo tão insuportável para os dois. Decidem confabular um plano para comprarem passagens para Grécia, antes roubando dinheiro de uma família que viajou.
Nas cenas em que Léon e Léa colocam o plano em ação estão os momentos de maior encantamento do filme… Não há um espectador que passaria ileso pelo belo desenho criado pelo diretor de um primeiro amor. Desde as cenas em que se mostram como pequenos adultos: Léon cheio de artefatos para invasão da casa, arrasta-se no chão, escala o muro e a grade protetora, enquanto Léa caminha facilmente e sobe as escadas; a tentativa frustrada e engraçadíssima de Léon para abrir um pequeno buraco na porta de vidro; a maneira como ajuda Léa quando ela está chorando em uma crise existencial… Até os momentos em que são apenas crianças, puras como imaginamos que todas as crianças deveriam ser.
O romance dos dois sana a ausência e o abandono que ambos sofreram pela figura masculina e feminina de maior importância na vida do ser humano. Tem meandros de conto de fadas, não daqueles adaptados pela Disney, mas daqueles reais, nos quais nem sempre os finais são felizes, ainda que haja muita magia e personagens fantásticos.
Haveria muito mais a dizer, mas para falar o filme, vale falar uma imagem: o lugar que Léon escolhe para seu esconderijo é um círculo descampado em meio a uma densa vegetação. Lá há um guarda-sol amarelo e uma pedra grande. E quando pergunta a Léa onde está o seu, ela responde apontando para o seu coração.

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